Um carro americano com coração italiano, um 4x4 pronto para o off-road.
O Jeep Cherokee 2.8 CRD uniu a força bruta dos EUA ao motor VM Motori fabricado no Piemonte, e marcou uma era do off-road diesel.
Antes dos SUVs eletrificados e das normas ambientais sufocarem o som dos motores, existiu um Jeep que unia o melhor de dois mundos: a robustez americana e a engenharia italiana. Uma combinação perfeita para um carro que garante desempenho na cidade ou no off-road até os dias de hoje.
O Jeep Cherokee 2.8 CRD ou Jeep Liberty CRD, como ficou conhecido nos Estados Unidos, nasceu no início dos anos 2000 e ainda hoje é lembrado por quem gosta de torque, trilha e aventura sem frescura.
Produzido entre 2002 e 2007 na plataforma KJ, o Cherokee CRD marcou uma virada na história da Jeep. Pela primeira vez, a marca norte-americana confiava a alma de um de seus 4x4 a um motor italiano: o 2.8 litros turbodiesel da VM Motori, fabricado em Centallo, no norte do Piemonte.
Foi uma parceria improvável, mas genial. O resultado era um jipe compacto, forte e resistente, capaz de enfrentar qualquer tipo de terreno com a força característica dos Jeeps de verdade e com o toque técnico e mecânico italiano que o tornava confiável e eficiente.
Liberty nos EUA, Cherokee na Europa e no Brasil
Nos Estados Unidos, o modelo recebeu o nome Jeep Liberty CRD, enquanto na Europa (incluindo a Itália) manteve o nome Cherokee 2.8 CRD.
A estrutura era a mesma, mas havia pequenas diferenças: o painel em milhas virou km/h, o sistema de emissões foi adaptado às normas europeias e o visual ganhou faróis e lanternas com padrão CE.
De resto, era o mesmo Jeep raiz, com tração part-time, reduzida mecânica e aquele torque grosso que todo off-roader adora sentir nas subidas de montanha.
O motor VM Motori entregava cerca de 160 cavalos e 400 Nm de torque, números excelentes para um SUV da época. Nas versões mais recentes, já reestilizadas, a potência chegava a 177 cv, com melhorias no turbo e na gestão eletrônica.
No Brasil, o modelo também marcou presença: entre 2002 e 2007, foi vendido com o nome Cherokee Sport 2.8 CRD, importado dos Estados Unidos.
Equipado com o mesmo motor VM Motori de 160 cv e tração 4x4 part-time Command-Trac, ele oferecia desempenho robusto e consumo competitivo para os padrões da época.
A partir de 2008, a nova geração (Cherokee Limited 2.8 CRD, já da plataforma KK) também chegou ao país, com 177 cv e câmbio automático de cinco marchas, reforçando o apelo do diesel entre os fãs do off-road.
Era o tipo de motor que você escutava antes mesmo de ver chegando e, na trilha, bastava um leve toque no acelerador para perceber que o 2.8 CRD não brincava em serviço.
Entre o diesel e o futuro: as versões e suas emissões
Durante seu ciclo de produção, o Cherokee 2.8 CRD passou por diferentes classificações de emissões, acompanhando a transição das normas europeias.
Nos Estados Unidos, o modelo teve uma missão ousada: competir com versões equipadas com motores V6 a gasolina. E, surpreendentemente, conquistou seu espaço graças ao torque, que era onde o diesel mostrava seu desempenho.
Com quase 410 Nm entregues em baixas rotações, o motor italiano VM Motori garantia força imediata para puxar, rebocar e encarar subidas com confiança.
Apesar de não superar o V6 em potência, oferecia autonomia e eficiência muito superiores, rodando longas distâncias com menos consumo e mais fôlego.
Era um dos poucos SUVs médios a diesel da época e, até hoje, é lembrado como um 4x4 que uniu desempenho real, economia e coragem mecânica em um pacote que a Jeep raramente voltou a oferecer.
Nos Estados Unidos, o diesel acabou ficando pelo caminho após 2006, quando as normas de emissões se tornaram mais severas do que o 2.8 CRD podia atender.
Aqui na Europa, o 2.8 CRD continuou em produção por mais alguns anos, recebendo atualizações para atender às normas Euro, até ser substituído pelo motor 2.0 Multijet II, que passou a equipar a nova geração de SUVs da Jeep.
Mesmo após a chegada das normas Euro 5 e Euro 6, é comum encontrar Cherokee 2.8 CRD ainda rodando pelas estradas italianas. A explicação é simples: são carros resistentes, com mecânica acessível e manutenção relativamente barata.
Curiosidades que contam essa história
- O 2.8 CRD foi o mesmo motor usado em alguns Alfa Romeo e Lancia (com calibração diferente), provando o nível de sofisticação do projeto.
- O torque máximo era entregue já a 1.800 rpm, o que tornava o carro muito eficiente em trilhas e subidas.
- Nos EUA, em 2006, o Liberty CRD foi descontinuado por não atender às regras de emissões de poluentes, mesmo sendo adorado pelos fãs de diesel.
- O motor tem fama de ser “indestrutível” se bem cuidado, mas exige manutenção rigorosa no sistema EGR e no turbo.
- É um dos poucos Jeeps dessa geração que combinavam câmbio automático com reduzida mecânica de verdade — e não um sistema eletrônico simulado como em SUVs modernos.
Entre Detroit e Centallo
E olha que mundo pequeno: o coração do Cherokee americano nasceu aqui mesmo, no norte da Itália, a apenas 130 km da minha casa e a cerca de duas horas de Turim. A fábrica continua ativa até hoje, produzindo motores para várias marcas globais.
Ou seja, podemos afirmar que aquele som característico do 2.8 CRD que ecoava pelas trilhas dos Estados Unidos tinha, na verdade, um sotaque italiano!
ADRENAOPINIÃO
Enquanto o mundo corre atrás da autonomia elétrica e do silêncio dos motores, há algo de nostálgico e verdadeiro em ouvir o ronco de um turbodiesel subindo uma estrada de terra.
O Cherokee 2.8 CRD representa uma era em que o off-road ainda cheirava a óleo quente e liberdade.
Pode ser “velho” para os padrões urbanos, mas continua funcional na essência: tração real, estrutura forte, torque de sobra e uma alma feita para rodar.
E talvez seja por isso que tantos ainda resistem ao tempo, porque no fim das contas um carro com coração italiano nunca deixa de emocionar, e convenhamos, os italianos sabem bem o segredo da longevidade.